“Uma criatura de nervos modernos, de intligência sem cortinas, de sensibilidade acordada, tem a obrigação cerebral de mudar de opinião e de certeza várias vezes no mesmo dia.”
Fernando Pessoa nos faz pensar sobre as certezas: me parece que talvez em nenhuma outra área da atuação humana as certezas sejam mais danosas, do que na educação. Dedicar-se à educação é duvidar sempre, reconstruir sempre, refletir sempre, criar todo dia, recomeçar todo dia, descobrir a cada ação, a cada olhar, a cada momento jeitos novos...
Fernando Pessoa discutia consigo e discute conosco através dos vários personagens que criou para si mesmo. Reflete o Barão de Teive,
“Pertenço a uma geração – supondo que essa geração seja mais pessoas que eu – que perdeu por igual a fé nos deuses das religiões antigas e a fé nos deuses das irreligiões modernas. Não posso aceitar Jeová, nem a humanidade. Cristo e o progresso são para mim mitos do mesmo mundo. Não creio na Virgem Maria nem na eletricidade.”
E pondera:
“O conflito que nos queima a alma (...) é o conflito entre a necessidade emotiva da crença e a impossibilidade intelectual de crer”
Encontrei um texto interessante, de um sociólogo e teólogo, que pode trazer Fernando Pessoa para nossa conversa sobre Ciência, Ética e Religião. O trecho abaixo é um resumo.
FERNANDO PESSOA: RELIGIOSIDADE NA POESIA
Anaxsuell Fernando da Silva(*)
O Poeta Fernando Pessoa (1888-1935), um dos mais controvertidos artistas do século XX, declarava-se um cristão gnóstico. Apesar disso, não se alinhou a nenhuma instituição religiosa e/ou doutrina estabelecida. Teve na dimensão religiosa a temática preferida. A proposta deste trabalho é compreender a religiosidade em Pessoa por meio da leitura de imagens suscitadas a partir de sua obra, e assim evidenciar na vasta produção significações poéticas que podem ser associadas a signos de religiosidade, seja no conteúdo manifesto ou latente de sua obra. Entende-se que Pessoa, e todos os seus personagens criados por intermédio da heteronímia, fez uso em sua escrita da linguagem simbólica dos mais distintos universos religiosos para compor sua própria forma de religiosidade. Visualiza-se que essa é pluriforme e talvez objetivasse contrariar os limites sociais estabelecidos para o exercício da fé.
(*) Doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Mestre em Ciências Sociais, Bacharel em Sociologia e com licenciatura plena em Ciencias Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), também é graduado em Teologia pela Escola Superior de Teologia (São Leopoldo/RS) e especialista em educação ambiental (IFESP).]
Postado no blog de Ciência e Cultura pela professora Vera Henriques.
Editado por Rafaela Osiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário