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terça-feira, 21 de setembro de 2010

A Ciência - Fernando Pessoa

A CIÊNCIA, a ciência, a ciência...
Ah, como tudo é nulo e vão!
A pobreza da inteligência
Ante a riqueza da emoção!

Aquela mulher que trabalha
Como uma santa em sacrifício,
Com tanto esforço dado a ralha!
Contra o pensar, que é o meu vício!

A ciência! Como é pobre e nada!
Rico é o que alma dá e tem.
Afixado no mural.

Felicidade - Fernando Pessoa

Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!
Afixado no mural.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O Binômio de Newton - Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)


O Binômio de Newton é tão belo como a Vênus de Milo.
O que há é pouca gente para dar por isso.
óóóó — óóóóóóóóó — óóóóóóóóóóóóóóó
(O vento lá fora.)

Vênus de Milo

Aqui o heterônimo de Fernando Pessoa traz em discussão a beleza contida nas diversas formas de expressão do homem. De um lado um teorema matemático, do outro uma estátua grega, a qual representa a deusa grega Afrodite. Álvaro de Campos propõe esta comparação, pois a beleza da matemática reside em poucos olhos, poucos serão capazes de olhá-la e ver beleza. Poderam muitos ver utilidade e estrutura lógica, a dificuldade se encontra em observarmos o belo.

Postado por Glauco Moreno.

Fernando Pessoa, plural como o universo

Exposição temporária
de 24/08/2010 a 30/01/2011

Uma espécie de labirinto no qual cada passo leva o visitante a uma experiência poética única, dividida em vozes e estilos diferentes, mas oriundos de uma mesma fonte: a escrita de Fernando Pessoa. A exposição “Fernando Pessoa, plural como o universo”, a primeira sobre um autor português no Museu da Língua Portuguesa, pretende mostrar a multiplicidade da vida e da obra do poeta, que se revela nos versos das dezenas de heterônimos (nomes imaginários sob os quais o autor identificava obras escritas por ele, mas com características próprias) e personagens literários criados por ele. Poemas impressos e projetados, fac-símiles de documentos, imagens de Pessoa e quadros de pintores portugueses compõem o visual da exposição, que tem ainda um vídeo feito pelo documentarista Carlos Nader, com roteiro de Antônio Cícero. A exposição tem a curadoria de Carlos Felipe Moisés e Richard Zenith, cenografia de Hélio Eichbauer, design gráfico de Heloisa Faria sob a coordenação geral de Julia Peregrino.

A exposição está em cartaz na sala de exposições temporárias do Museu da Língua Portuguesa

De 24 de agosto de 2010 até 30 de janeiro de 2011

De terça a domingo, das 10 às 18h

Museu da Língua Portuguesa
Praça da Luz, s/nº, Centro – São Paulo

visitefernandopessoa.org.br

museudalinguaportuguesa.org.br


Veja o post da professora Vera sobre o encontro na exposição.

O guardador de rebanhos - Fernando Pessoa

Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia,

O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.

O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

Afixado no mural

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Fernando Pessoa: racionalidade e religião

“Uma criatura de nervos modernos, de intligência sem cortinas, de sensibilidade acordada, tem a obrigação cerebral de mudar de opinião e de certeza várias vezes no mesmo dia.”


Fernando Pessoa nos faz pensar sobre as certezas: me parece que talvez em nenhuma outra área da atuação humana as certezas sejam mais danosas, do que na educação. Dedicar-se à educação é duvidar sempre, reconstruir sempre, refletir sempre, criar todo dia, recomeçar todo dia, descobrir a cada ação, a cada olhar, a cada momento jeitos novos...

Fernando Pessoa discutia consigo e discute conosco através dos vários personagens que criou para si mesmo. Reflete o Barão de Teive,


“Pertenço a uma geração – supondo que essa geração seja mais pessoas que eu – que perdeu por igual a fé nos deuses das religiões antigas e a fé nos deuses das irreligiões modernas. Não posso aceitar Jeová, nem a humanidade. Cristo e o progresso são para mim mitos do mesmo mundo. Não creio na Virgem Maria nem na eletricidade.”


E pondera:


“O conflito que nos queima a alma (...) é o conflito entre a necessidade emotiva da crença e a impossibilidade intelectual de crer”


Encontrei um texto interessante, de um sociólogo e teólogo, que pode trazer Fernando Pessoa para nossa conversa sobre Ciência, Ética e Religião. O trecho abaixo é um resumo.


FERNANDO PESSOA: RELIGIOSIDADE NA POESIA

Anaxsuell Fernando da Silva(*)

O Poeta Fernando Pessoa (1888-1935), um dos mais controvertidos artistas do século XX, declarava-se um cristão gnóstico. Apesar disso, não se alinhou a nenhuma instituição religiosa e/ou doutrina estabelecida. Teve na dimensão religiosa a temática preferida. A proposta deste trabalho é compreender a religiosidade em Pessoa por meio da leitura de imagens suscitadas a partir de sua obra, e assim evidenciar na vasta produção significações poéticas que podem ser associadas a signos de religiosidade, seja no conteúdo manifesto ou latente de sua obra. Entende-se que Pessoa, e todos os seus personagens criados por intermédio da heteronímia, fez uso em sua escrita da linguagem simbólica dos mais distintos universos religiosos para compor sua própria forma de religiosidade. Visualiza-se que essa é pluriforme e talvez objetivasse contrariar os limites sociais estabelecidos para o exercício da fé.

(*) Doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Mestre em Ciências Sociais, Bacharel em Sociologia e com licenciatura plena em Ciencias Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), também é graduado em Teologia pela Escola Superior de Teologia (São Leopoldo/RS) e especialista em educação ambiental (IFESP).]


Postado no blog de Ciência e Cultura pela professora Vera Henriques.

Editado por Rafaela Osiro.

Ode Mortal (excerto) - Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)


Tu, Caeiro meu mestre, qualquer que seja o corpo


Com que vestes agora, distante ou próximo, a essência

Da tua alma universal localizada,

Do teu corpo divino intelectual...

Viste com a tua cegueira perfeita, sabes o não ver...

Porque o que viste com os teus dedos materiais e admiráveis

Foi a face sensível e não a face fisiognomónica das coisas

Foi a realidade, e não o real.

É à luz que ela é visível,

E ela só é visível porque há luz,

Porque a verdade que é tudo é só a verdade que há em tudo

E a verdade que há em tudo é a verdade que o excede!

Ah, sem receio!

Ah, sem angústia!

Ah, sem cansaço antecipado da marcha

Nem cadáver velado pelo próprio cadáver na alma

Nas noites em que o vento assobia no mundo deserto

E a casa onde durmo é um túmulo de tudo,

Nem o sentir-se muito importante sentindo-se cadáver,

Nem a consciência de não ter consciência dentro de tábuas e chumbo,

Nem nada...

Olho o céu do dia, espelha o céu da noite

E este universo esférico e côncavo

Vejo-o como um espelho dentro do qual vivemos,

Limitado porque é a parte de dentro

Mas com estrelas e o sol rasgando o visível

Por fora, para o convexo que é infinito...

E aí, no Verdadeiro,

Tirarei os astros e a vida da algibeira como um presente ao Certo,

Lerei a Vida de novo, como numa carta guardada

E então, com luz melhor, perceberei a letra e saberei.

O cais está cheio de gente a ver-me partir.

Mas o cais é à minha volta e eu encho o navio —

E o navio é cama, caixão, sepultura — E eu não sei o que sou pois já não estou ali...

E eu, que cantei

A civilização moderna, aliás igual à antiga,

As coisas do meu tempo só porque esse tempo foi meu,

As máquinas, os motores,

(...)

Vou em diagonal a tudo para cima.

Passo pelos interstícios de tudo,

E como um pó sem ser rompo o invólucro

E partirei, globe-trottrer do Divino,

Quantas vezes, quem sabe?, regressando ao mesmo ponto

(Quem anda de noite que sabe do andar e da noite?),

Levarei na sacola o conjunto do visto —

O céu e de estrelas, e o sol em todos os modos,

E todas as estações e as suas maneiras de cores,

E os campos, e as serras, e as terras que cessam em praias

E o mar para além, e o para além do mar que há além.

E de repente se abrirá a Última Porta das coisas,

E Deus, como um Homem, me aparecerá por fim.

E será o Inesperado que eu esperava —

O Desconhecido que eu conheci sempre —

O único que eu sempre conheci,

E (...)

Gritai de alegria, gritai comigo, gritai,

Coisas cheias, sobre-cheias,

Que sois minha vida turbilhonante...

Eu vou sair da esfera oca

Não por uma estrela, mas pela luz de um estrela —

Vou para o espaço real...

Que o espaço cá dentro é espaço por estar fechado

E só parece infinito por estar fechado muito longe —

Muito longe em pensá-lo.

A minha mão está já no puxador-luz.

Vou abrir com um gesto largo,

Com um gesto autêntico e mágico

A porta para o Convexo,

A janela para o Informe,

A razão para o maravilhoso definitivo.

Vou poder circum-navegar por fora este dentro

Que tem as estrelas no fim, vou ter o céu

Por baixo do sobrado curvo —

Tecto da cave das coisas reais,

Da abóbada nocturna da morte e da vida...

Vou partir para FORA,

Para o Arredor Infinito,

Para a circunferência exterior, metafísica,

Para a luz por fora da noite,

Para a Vida-morte por fora da morte-Vida.


Afixado no mural por - Rafaela