quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Poema para Galileu - Antonio Gedeão


Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano,
aquele teu retrato que toda a gente conhece,
em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce
sobre um modesto cabeção de pano.
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.
(Não, não, Galileo! Eu não disse Santo Ofício.
Disse Galeria dos Ofícios.)
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença.
Lembras-te? A Ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria…
Eu sei… Eu sei…
As margens doces do Arno às horas pardas da melancolia.
Ai que saudade, Galileo Galilei!

Olha. Sabes? Lá em Florença
está guardado um dedo da tua mão direita num relicário.
Palavra de honra que está!
As voltas que o mundo dá!
Se calhar até há gente que pensa
que entraste no calendário.

Eu queria agradecer-te, Galileo,
a inteligência das coisas que me deste.
Eu,
e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste,
ia jurar - que disparate, Galileo!
- e jurava a pés juntos e apostava a cabeca
sem a menor hesitação -
que os corpos caem tanto mais depressa
quanto mais pesados são.

Pois não é evidente, Galileo?
Quem acredita que um penedo caia
com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo da praia?

Esta era a inteligência que Deus nos deu.

Estava agora a lembrar-me, Galileo,
daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo
e tinhas à tua frente
um friso de homens doutos, hirtos, de toga e de capelo
a olharem-te severamente.
Estavam todos a ralhar contigo,
que parecia impossível que um homem da tua idade
e da tua condição,
se estivesse tornando num perigo
para a Humanidade
e para a Civilização.
Tu, embaraçado e comprometido, em silêncio mordiscavas os lábios,
e percorrias, cheio de piedade,
os rostos impenetráveis daquela fila de sábios.

Teus olhos habituados à observação dos satélites e das estrelas,
desceram lá das suas alturas
e poisaram, como aves aturdidas - parece que estou a vê-las -,
nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas.
E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor, que era tudo tal qual
conforme suas eminências desejavam,
e dirias que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal
e que os astros bailavam e entoavam
à meia-noite louvores à harmonia universal.
E juraste que nunca mais repetirias
nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu pensamento, livre e calma,
aquelas abomináveis heresias
que ensinavas e escrevias
para eterna perdição da tua alma.
Ai, Galileo!
Mal sabiam os teus doutos juízes, grandes senhores deste pequeno mundo,
que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços,
andavam a correr e a rolar pelos espaços
à razão de trinta quilómetros por segundo.
Tu é que sabias, Galileo Galilei.
Por isso eram teus olhos misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de piedade,
piedade pelos homens que não precisam de sofrer, homens ditosos
a quem Deus dispensou de buscar a verdade.
Por isso estoicamente, mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias, a todos os contratempos,
enquanto eles, do alto inacessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo,
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente,
na razão directa dos quadrados dos tempos.


Um pouco sobre Galileu...

Este poema discursa sobre uma época situada por volta de 1600, e sobre a vida de um dos "gigantes da física". Galileu que antes de 1611 lecionava matemática, ainda fazia suas explicações do sistema planetário com geocêntrico, mas já estava entrando em contato com as leituras de Copérnico. Em cartas a Kepler, a discussão sobre o sistema heliocêntrico séria ridículo, pois em contra posição as idéias aristotélicas e a simplicidade contidas nelas, bastavam para responder sobre muitas observações dos corpos celestes e outros fenômenos.

Porém em 1609, com a utilização do telescópio (Creditado a Hans Lippershey sua criação) Galileu pode fortificar a defesa da teoria heliocêntrica. Assim, por meio de várias observações Galileu descobriu refutações do que propunha os ideais aristotelicas-ptolomaico, das quais propunham os corpos celestes depois da Terra como, feitos por matéria “etérea” justificando a não queda para o centro do universo, o centro da Terra. Dentre essas refutações estão:


1º - A superfície da Lua;

Galileu percebeu que a Lua tinha em sua superfície crateras, as quais contradiziam a crença popular da época.

2º - A concepção da via-láctea;

Também, em suas observações Galileu conseguiu atentar para estrelas jamais vistas a olho nu. O que antes era apenas admiração aos olhos humanos, se tornou então um problema já que a maioria delas não era vistas por eles.

3º - Os satélites de Júpiter;

Ao apontar o telescópio para o "errante" Júpiter (os planetas eram chamados de errantes, pois em algumas épocas de suas órbitas realizavam movimentos retrógrados), Galileu percebeu os movimentos de 4 corpos celestes. Os quais realizavam esses movimentos ao redor de Júpiter e não ao redor da Terra como propunha o conhecimento da época.


Foi assim que Galileu, cujas idéias já estavam desfavoráveis ao geocentrismo publicou em 1610, o livro "Sidereus Nuncius" (tradução ao português: "O mensageiro das estrelas"). Neste livro estavam contidas as observações e relatos das refutações, a cima, descritas sucintamente.

Num primeiro momento tais argumentações foram, até, bem aceitas e seriam apresentadas na corte e ao futuro papa Urbano VIII. Porém, a igreja começou a tomar posicionamentos mais rígidos e interpretações ao pé da letra da Bíblia. E foi mais tarde, em 1616 que a Inquisição se mostrou contra a teoria heliocêntrica. Assim, muitos livros como os de Galileu, Copérnico, Giordano Bruno e outros foram parar na lista de livros proibidos. Então, que o embate começou a ganhar conseqüências.

Nesta época as pesquisas eram mais favoráveis a Tycho Brahe, pois como adepto fervoroso da teoria geocêntrica, realizava pesquisas e observações capazes de afirmar suas hipóteses.

Foi proibido então falar-se em teoria heliocêntrica como "Verdade Física", mas poderia ser estudada como hipótese matemática.

Nestes altos e baixos, um dos amigos de Galileu ascende a posição de Papa (Urbano VII) e dá a Galileu a oportunidade de mostrar suas hipóteses, porém de forma equilibrado. Colocando e contrapondo os dois pontos de vista, na criação de um livro. Foi assim, que podemos dizer de forma até ousada Galileu escreve "Dialogo di Galileo Galilei sopra i due Massimi Sistemi del Mondo Tolemaico e Copernicano"(Dialogo sobre os dois principais sistemas do mundo Ptolomaico e Copernicano). Diga-se de passagem, ousado, pois em seu livro as duas visões não eram colocadas tão equilibradas. Galileu de forma às vezes explicita, bem como implícita defende a concepção do sistema heliocêntrico.

Numa interpretação feita pelos "avaliadores" da igreja, o livro era uma oposição fortíssima as questões geocêntricas. Então, o papa Urbano VIII, incluiu também este livro ao "index" e utilizou-se das forças da inquisição para punir Galileu como forma de demonstrar a traição cometida.

A saída de que Galileu utilizou foi uma proposta controversa aos olhares de seus apoiadores, e a atitude correta aos olhares da igreja. Mas, talvez uma das mais inteligentes já pensadas. Pois, sob pressão de drásticas punições; um dos maiores defensores da teoria heliocêntrica começou a declarar que suas concepções eram errôneas e ditas de um "amador". Assim, ficou em "cárcere privado". Mas, ate então, "uma mordomia", diga-se de passagem. Pois, ficou num aposento do vaticano grande e no qual continuou a realizar seus estudos.

Foi então, em 1636,já com 74 anos e cego, que se concretizou a realização da sua ultima obra "Discorsi e Dimostrazioni Matematiche Intorno a Due Nuove Scienze"(conhecido pela tradução "Discursos e demonstrações matemáticas acerca de duas novas ciências" ou apenas "discursos"). Neste livro posto em diálogos, podemos dividi-lo em quatro partes ou jornadas. As duas primeiras falam sobre as "duas ciências" uma retomada aos diálogos e sobre a resistência dos materiais, respectivamente. As últimas duas partes propoem-se a avaliar e questionar o movimento acelerado e as leis dos movimentos de projeteis (Menção feita por Gedeão neste poema acima, nos últimos versos).

Pode-se dizer que não foi bem aceito e teve suas primeiras publicações na Holanda. Galileu, diga-se de passagem, foi um homem que realizou conquistas e propostas, já "muito velho". Contrapondo o que hoje se relata que para se descobrir algo deve ser uma pessoa nova, de cabeça limpa de influências. Eis um homem que contradiz este discurso popular.

Referências:

http://odiario.info/?p=103

http://galileu-galilei.webs.com/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Galileu_Galilei

Postado por Glauco Moreno.

Nenhum comentário:

Postar um comentário